A construção de um relacionamento com a própria família nuclear (marido, esposa e filhos) já apresenta muitos desafios, pois cada um tem um temperamento, envolve muita tolerância, persistência e amor. No entanto, o casal tem tempo para ir conhecendo os filhos (e vice-versa) e construir aos poucos um relacionamento em comum.
Já nos casos de famílias em que ocorreu um recasamento esse “treinamento” não pôde ocorrer. Os filhos de um primeiro relacionamento já aparecem “prontos”, com seus hábitos e estilo de ser, ao mesmo tempo que o casal precisa ajustar-se um ao outro.
É preciso tempo e paciência para que essa adaptação comece a ser feita. Famílias recasadas tendem a ser mais bem sucedidas quando os pais incluídos tomam duas atitudes:
NÃO TENTAM ASSUMIR O PAPEL DE PAIS – querendo impor disciplina, por exemplo.
MAS, AO MESMO TEMPO, AGIR EM UM PAPEL DE APOIO – trata-se de uma atitude ativa a fim de construir relações calorosas e de apoio com os enteados. Demonstrar apoio, mas sem passar o limite de responsabilidade que é dos pais.
Segundo Booth e Edwards (1993)¹, a presença de filhos de um casamento prévio é fator preponderante para tornar o segundo divórcio mais provável. Isso ocorre porque os complexos desafios estruturais enfrentados pelas famílias de um segundo casamento tornam extremamente difícil o desenvolvimento de interações e a formação de relações satisfatórias.
A seguir, os seis maiores desafios de uma família em um segundo casamento. Nessa primeira parte, as três primeiras¹:
1) Membros e estrangeiros – a nova família precisa integrar os novos membros na unidade familiar. Esse é um ato de equilíbrio que requer uma certa dose de estabilidade e de confiança na resistência da unidade familiar, bem como uma abertura para incluir os novos membros.
2) Disputa de fronteiras – mais comum ocorrer em casos em que os filhos alternam sua estada, alguns dias na casa da mãe, outros na casa do pai. O que costuma ocorrer é uma disputa e discordância em relação as regras em cada lugar.
“Minha mãe disse que posso” ou “Meu pai não me obriga a dormir cedo”
Cada lar precisa ter controle sobre como decidem lidar com assuntos que dizem respeito a sua esfera – e outro membro precisa respeitar essa fronteira. Isso pode envolver questões práticas de território, por exemplo, quem dorme aonde, o que é pessoal e o que interessa à todos etc.
3) Questões de poder- o fato do(a) filho(a) passar a estar com uma madrasta ou padrasto pode gerar receio que se perca o “controle” em relação a criação do próprio filho.
Aqui é fundamental que o padrasto e madrasta tenham uma postura imparcial em relação ao modelo de criação dos enteados. Como normalmente acaba por interferir na relação do casal o indicado é conversar a sós com o(a) cônjuge para estabelecerem critérios que não interfiram tanto na relação.
¹ Retirado de Famílias e Casal: do sintoma ao sistema. Minuchin, Nichols, Lee.
Segue uma pequena prévia da continuação desse tema na parte dois do Segundo casamento e enteados(as): por que é tão difícil?
4) Conflitos de Lealdade –
5) Triângulos Rígidos-
6) Unidade versus fragmentação da nova relação do casal
Até lá!