Nesse mês das mães quero falar sobre um tema que considero muito importante quando falamos em separação conjugal: a Parentalização do filho em casos de divórcio dos pais.
Mas o que significa Parentalização?
Esse termo é utilizado para designar os casos em que a criança desde muito cedo exerce o papel de cuidadora de seus pais/um dos pais ou mesmo irmãos.
Esse tipo de criança Parentalizada possui algumas características:
- Parece madura (digo parece, pois na verdade não tem maturidade cognitiva de um adulto)
- Cumpre tarefas de “gente grande” (como cuidar dos irmãos e de outras pessoas e/ou ter responsabilidades de um adulto, como trabalhar e fazer tarefas domésticas)
- Quase nunca ou nunca reclamam disso
- Não esperam ser cuidadas ou ajudadas
- Costumam se preocupar com assuntos de responsabilidade dos adultos, fazendo de tudo para resolver os problemas e intermediar conflitos
Não estou falando aqui de crianças que podem arrumar sua cama ou guardar seus brinquedos após o uso, por exemplo – isso é até saudável quando ocorre dentro da faixa etária apropriada. Estou falando de alguém que ainda é criança e precisa abrir mão de sua infância (pulando uma etapa do desenvolvimento infantil) para assumir responsabilidades que NÃO são suas.
É um problema de âmbito social, inclusive: quantas crianças no sinal, que precisam trabalhar durante o dia para levar o sustento para a família. Mas não terei como ampliar essa discussão para um aspecto social e político, face a limitação imposta pelo propósito do blog.
No entanto, essa forma de existir deixa marcas:
- Como não entra em contato com suas próprias necessidades, quando adulto tem dificuldades em fazer escolhas e separar relações que “nutrem”, daquelas que são tóxicas;
- Como desenvolveu um falso self de autonomia e independência, quando adulto tende a se sentir vulnerável e exposto em situações que precise ser ajudado, vivendo as inúmeras consequências de não pedir auxílio em circunstâncias necessárias;
- Como só se reconhece ao lado de alguém necessitado (no papel de cuidador), a tendência das relações futuras é que ocupe o papel de cuidador(a) compulsivo(a), nos mais diversos aspectos, inclusive financeiro. Tendo dificuldades em saber quando está sendo explorado (financeiramente e emocionalmente) ou não;
- Sentimento de culpa, pois tende a assumir a responsabilidade pelos problemas dos outros.
Como a Parentalização acontece em casos de separação conjugal?
Muitas vezes quando os pais ou responsáveis estão em processo de separação uma das partes (costuma acontecer mais com as mães), por estar atravessando um momento difícil e se sentir muito fragilizada, deposita no filho pequeno todas as suas angústias, conflitos e receios. Desabafa sobre tudo que está acontecendo, mostra-se extremamente vulnerável e esse filho acaba por assumir o papel de cuidador e intermediador da situação de conflito.
Se para o adulto é difícil lidar com a situação, imagina para uma criança que não tem maturidade emocional para tal.
Não se trata aqui de crucificar essa mãe (ou pai), pois é fato que estão sofrendo muito. Mas é preciso entender que como adultos precisamos lidar com nossas questões para que possamos amadurecer e crescer com tudo que a vida nos traz. Por isso, o indicado é fazer Psicoterapia para lidar melhor com a situação e passar a olhar o problema sob outra perspectiva, desenvolvendo ferramentas internas através do auxílio de um Psicólogo. Quanto mais sabemos lidar com nossas emoções, mais aptos para lidar com os problemas estamos e menor a possibilidade de passar para os outros àquilo que somente nós poderemos dar conta.
É importante ressaltar que não se trata de criar o filho alheio à todos os problemas que ocorrem no sistema familiar, até porque as crianças são muito sensíveis e percebem quando algo não vai bem. Trata-se de não compartilhar àquilo que compete somente ao casal resolver e deixa a criança apenas no papel de filho, ciente que sempre será amado por ambos, mesmo que o divórcio seja inevitável.