Uma pesquisa de 2016 realizada por uma Psicóloga da Universidade Federal do Rio Grande do Sul¹ investigou os motivos que levavam homens e mulheres a serem infiéis. Essa pesquisa buscou compreender a infidelidade relacionada a quatro domínios importantes: características pessoais, características do companheiro(a), casamento e contexto.
Participaram da pesquisa online 1042 pessoas, 730 mulheres (70%) e 312 homens (30%) de orientação heterossexual casados ou que coabitavam com seu(a) parceiro(a). As idades variaram entre 21 e 73 anos, sendo a idade média de 37 anos.
Os principais motivos para cometer infidelidade apontados pelos participantes da pesquisa foram:
1) Baixos níveis de satisfação na relação conjugal – as pessoas que traíram seu companheiro(a) apresentavam menores níveis de intimidade com o(a) parceiro(a).
Esse processo pode resultar em falta de curiosidade pelo outro, levando a uma relação monótona e empobrecida. A falta da paixão, expressa em excitação, romantismo e intimidade sexual, é reportada pelas pessoas infiéis como um dos motivos que levam a infidelidade.
O casamento pressupõe uma relação de grandes níveis de proximidade, mas, encontram-se casais que apresentam dificuldades com a intimidade e com o passar dos anos, há um aumento do afastamento emocional entre os seus membros. Essa desconexão emocional pode gerar a busca por um relacionamento extra conjugal.
2) Baixo nível de comprometimento – pessoas que foram infiéis em relacionamentos anteriores apresentaram a mesma dinâmica de infidelidade no relacionamento atual.
Isso pode demonstrar que a pessoa que comete infidelidade é menos preocupada com os sentimentos do seu companheiro(a) e se envolva com maior facilidade em comportamentos de infidelidade.
O que se percebe é que baixos níveis de comprometimento (a pessoa não se sente comprometida com a relação em si) acaba por influenciar no nível de satisfação com a relação e o baixo nível de satisfação com a relação, por sua vez, propicia um aumento na possibilidade de se buscar uma relação extra conjugal.
Mas o inverso também pode ocorrer: uma pessoa insatisfeita com a relação conjugal, tende a se comprometer menos com a relação (por conta de uma desconexão emocional) e pode ter a demanda por um novo relacionamento aumentada.
3) Ter filhos também esteve associado a infidelidade – isso ocorre pois muitos casais tem dificuldade de equilibrar a Conjugalidade e a Parentalidade, ou seja, o papel entre pai/mãe e o papel marido/esposa.
Em consequência, muitas vezes, a vida conjugal acaba ficando “de lado” em função dos filhos. Muitas relatam se sentirem sozinhas na educação e decisões referentes aos filhos, sendo o relacionamento extraconjugal uma maneira de buscar apoio e afeto. Além disso, ainda nos dias atuais, a presença de filhos acaba sendo um mantenedor de casamentos com baixos níveis de satisfação, podendo a infidelidade ser uma válvula de escape de um relacionamento infeliz e busca por prazer.
Os filhos demandam muita negociação e alinhamento entre o casal e quando as mulheres não se sentem apoiadas pelo companheiro nas tarefas do lar e nos cuidados da prole, o caso extraconjugal pode cumprir uma função de exclusividade, atenção e cuidado que, em circunstâncias do cotidiano, não conseguem obter no seu relacionamento conjugal.
5) Contexto – A rotina de trabalho que envolve contato com colegas do sexo oposto e viagens em função de exigências do trabalho aumentam o risco de infidelidade para homens e mulheres.
No caso das mulheres casadas ou coabitando, a infidelidade não representa apenas um affair, mas a busca de algo mais, já que tendem a se envolver com pessoas do seu entorno que possuem contato, convivência e alguma intimidade. Nesse sentido, parece haver uma busca de carinho, compreensão e atenção que não é encontrada em seu relacionamento que levam as mulheres a este envolvimento.
Já para os homens, viagens de trabalho frequentes suas e da companheira estiveram associadas ao aumento de chances de infidelidade, entendendo-se que estar longe da companheira quando há uma intenção de separação, pode predispor à infidelidade. Esse dado leva a pensar que a solidão e a dificuldade de ficar sozinho são circunstanciais para a infidelidade no caso dos homens. Inclusive os homens tendem a recasar bem mais rápido quando comparado com as mulheres, demonstrando a dificuldade dos homens de ficarem sem ou longe de uma companheira.
Conseguiram perceber algo em comum nos motivos apontados pelos participantes da pesquisa?
Todos eles estão, de algum modo, relacionados à insatisfação na relação amorosa atual.
Como diz Rosa Maria Stefanini²:
“Um caso, em geral não é o problema do casamento, mas um casamento problemático é uma excelente condição para o acontecimento do caso”.
¹ Tese de Doutorado. Comportamentos de Infidelidade em homens e mulheres. Patrícia Scheeren
² Ligações perigosas: a infidelidade no casamento