Continuando a falar sobre a Teoria do Apego, agora quero relacionar os padrões de apego estabelecidos nos primeiros anos de vida com as dinâmicas de relacionamento amoroso na fase adulta.
PADRÃO SEGURO
A criança explora o ambiente de forma entusiasmada e motivada. Mas busca na mãe um referencial de apoio, se afasta para explorar o ambiente, mas volta o olhar para encontrar a mãe, no intuito de confirmar sua presença. Quando a mãe retorna se deixa ser confortada por esta. Na experiência a criança apresentava resistência em interagir com o estranho, mas arriscava alguma interação com ele, caso a mãe continuasse presente.
QUANDO ADULTO: estamos falando aqui de uma pessoa que desde cedo experimentou uma sensação de segurança, de conforto, de que “tem com quem contar”. Isso promove na vida adulta autoestima e a percepção que se é digno de ser amado.
Assim, quando adulto tende a lidar melhor com as situações de frustração, pois acredita em si mesmo(a). Como possui boa autoestima, acredita que deva ser amado(a) e viver a maior parte de sua vida de forma a se sentir feliz ou com bem estar. Mesmo sabendo que nenhuma relação é perfeita, consegue avaliar melhor as relações que são tóxicas e prejudiciais daquelas que são dignas de serem vividas.
A relação amorosa NÃO é um bote salva vidas, simplesmente porque sua vida não é um barco à deriva, procurando ser resgatado por alguém. A relação preenche um aspecto muito importante da vida, mas a pessoa também consegue encontrar engajamento em outras partes de sua vida: Trabalho, atividade física, tarde com amigas, estar sozinho lendo um livro etc.
Quando ocorre o fim da relação sofre, é claro, mas consegue gerenciar sua vida, porque tem um senso mais apurado do que ocorreu na relação, seus erros e acertos. Guarda em si (mesmo vivendo o luto da relação) uma confiança no futuro. Com isso, consegue se reestabelecer com o tempo.
No entanto, é ingenuidade pensar que esse estilo de apego é perfeito e dá conta de lidar sempre com maestria nas relações amorosas. Digo isso, porque a postura de abertura e franqueza que pressupõe esse tipo de vinculação permite, por outro lado, uma maior vulnerabilidade. Nem sempre na relação é possível ter os sentimentos aceitos e acolhidos pelo outro, como ocorria na relação mãe e filho. Assim, por ter sido menos exposta à relações inseguras na infância tende a desenvolver uma quantidade menor de recursos para lidar com as frustrações. A capacidade de lidar melhor com as frustrações vai depender da plasticidade do ego, desenvolvida ao longo da vida adulta.
PADRÃO AMBIVALENTE OU RESISTENTE
Essas crianças tinham pouco interesse em explorar o ambiente. Não se aproximavam da pessoa estranha e mostravam-se mais chorosas. Aqui a criança também sofria com a ausência da mãe, mas quando esta retornava não se deixava ser consolada por ela. Ao mesmo tempo que reclama sua presença, em alguns casos chegava até a recusar o contato com ela. Daí o aspecto ambivalente na experiência.
QUANDO ADULTO: Tende a ser um adulto inseguro. Não sente muita confiança em si próprio e apresenta um estilo contraditório de ser, hipersensível e com pouca iniciativa própria.
Tende a ser mais ansiosa(o) e mostra maior vulnerabilidade. Normalmente possue expectativas negativas sobre si e sobre o outro e nas relações amorosas cria padrões distorcidos de processamento de informação, ou seja, não consegue avaliar os “sinais” dados pelo outro. Isso acontece porque o indivíduo desenvolveu a chamada estratégia secundária de proteção, que é um efeito compensatório no sistema psicológico. Assim, tem duas possibilidades de reação:
Primeira: normalmente vê o parceiro como não disponível ou insensível (e pode ser uma distorção da realidade). Essa sensação de desamparo gera muita angústia e para não vivenciar tal sensação vai desativando o sistema de apego e isso gera uma incapacidade de “ler” as demonstrações de afeto do outro, gerando uma constante insatisfação da relação.
Segunda: Como tem uma visão do parceiro como alguém não disponível, super aciona o sistema de apego na tentativa de ter suas demandas emocionais atendidas. Assim, mostra-se vulnerável na tentativa de ter do parceiro alguma reação que atenda às suas demandas por afeto.
Luciane Lima – Psicóloga