Ciúme Patológico

Não há uma unanimidade quanto à definição do Ciúme Patológico. Para alguns autores o que definiria o ciúme como patológico seria:

  • O medo exagerado de perder o espaço na vida afetiva de outra pessoa. Penso que o critério aqui é vago, pois o que é exagerado para um, pode não ser exagerado para outro.

Outros autores consideram que para ser patológico o ciúme precisa:

  • Ser irracional e não circunstancial, ou seja, não precisa de uma situação específica e real que gere o ciúme. O sentimento surge de forma absurda e emancipada do contexto. O foco aqui está mais centrado nos motivos geradores de ciúme, mas sem descartar a forma que a pessoa lida com o ciúme.

Portanto, a linha que distingue o ciúme como normal ou patológico não é exata. Em Psiquiatria o ciúme patológico faz parte de algumas patologias. Alguns exemplos:

  • Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)- há muitos anos suspeita-se que os pensamentos de ciúme quando vivenciados como excessivos, irracionais ou intrusivos poderiam ser fruto de uma obsessão (pensamentos obsessivos) e as buscas por evidências da infidelidade, seriam compulsões que teriam a função de aliviar a angústia e ansiedade geradas pelos pensamentos obsessivos (de ciúme). Ficou confuso? Deixa eu explicar melhor.

Funciona assim:

Um pensamento incontrolável e irracional de que se está sendo traído surge. Para aliviar a enorme tensão provocada por esse sentimento, a pessoa começa a fazer rituais (compulsão), como por exemplo, o ritual de verificação que poderia ser questionamentos, telefonemas, visitas-surpresa, vasculhar bolsos, bolsas, celulares, agendas, ouvir telefonemas, seguir o cônjuge, abrir correspondências, entre outros.

Aqui a pessoa oscila sentimentos por conta da inconclusão da traição. Oscila entre a raiva, a culpa e a vergonha.

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  • Transtorno Delirante de tipo ciumento- a pessoa tem um delírio de subtipo ciumento (existem outros subtipos) e é caracterizado quando o tema central do delírio do indivíduo é o de que o cônjuge ou parceiro é infiel. Mas diferentemente do TOC a pessoa tem certeza da traição, mesmo sendo algo irreal.

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  • Síndrome de Dependência de uso de álcool- o uso de bebidas alcóolicas pode desencadear no ciumento suspeitas de infidelidade, considerada delirante, que leva à distorção da percepção e podem, também, deturpar a interpretação dos fatos.

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  • Transtorno de Personalidade Paranóide- mantém suspeitas infundadas de que está sendo enganado(a), explorado(a) ou prejudicado(a). Tende a ser uma pessoa isolada, pois quer evitar o risco de se abrir emocionalmente e sofrer algum dolo ou plano perverso vindo de outra pessoa. Nas relações tende a suspeitar de traição. Por definição, o conjunto dessas preocupações não tem intensidade de um delírio, sendo essa a principal diferença do Transtorno Delirante.

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  • Transtorno de Personalidade Borderline- esse transtorno é mais comum em mulheres. Caracteriza-se por um padrão de relacionamento interpessoal muito variável, que se alterna entre um extremo de idealização e outro de completa desvalorização do outro. Esse padrão está relacionado a uma intensa dependência dessa outra pessoa. Alterações súbitas do humor, atitudes manipuladoras, autodestrutivas (incluindo abusos de substâncias psicoativas, tentativas de suicídio e comportamentos impulsivos). Com frequência apresentam acessos de raiva intensos, podendo destruir objetos e agir com violência com outras pessoas.

 

É preciso observar de forma individualizada e por um profissional da área para traçar qualquer tipo de diagnóstico. O fato, por exemplo, de uma pessoa ter tido em algum momento uma atitude de quebrar objetos NÃO caracteriza por si só um diagnóstico, pois pode caracterizar algo circunstancial e não uma patologia.

Em todos esses casos de patologia a indicação é acompanhamento com Médico Psiquiátrica (para prescrição medicamentosa) associado à Psicoterapia (o Psicólogo auxiliará no autoconhecimento e na consequente construção de novas formas de lidar com as situações, para que a pessoa crie novas formas de existir na vida).

 

Fonte: DSM V; livro Cinema e Loucura: conhecendo os transtornos mentais através dos filmes.